25.10.07

Guerras de independência

Haverá assim tantas diferenças entre a Guerra de Independência (1775-1783) e a Guerra de Secessão (1861-1865)?


A luta dos insurgentes ou patriotas americanos contra os colonos britânicos e a dos confederados sulistas contra os unionistas do Norte foi a mesma: a insurgência contra um poder centralizador e ilegítimo. Pelo auto-governo e pela liberdade.

2 comentários:

Pedro Botelho disse...

Algumas diferenças existem, apesar de tudo, e a mais notória é que a primeira (uma revolução) arrastava a escravatura de forma algo envergonhada, com a percepção setecentista de que essa canga milenar deveria ser eliminada no futuro [1], enquanto a segunda (uma guerra entre estados e um super-estado) a colocava no centro político (e não só economico) do séc. XIX em curso como uma promessa de futuro. Não seria o ponto de vista de algumas grandes figuras da Confederação, mas era o que a lei estabelecia de forma aberta e enfática [2].

Aqui ficam dois interessantes exercícios especulativos para os aficionados de hipotéticas vitórias confederadas (ambos fáceis de localizar na Amazon):

-- The Confederate States of America - What Might Have Been de Roger L. Ransom: um fascinante estudo histórico (não se trata de ficção; é mesmo um estudo teórico, e o mais rigoroso possível nas imaginativas circunstâncias), sobre as possíveis sequelas económicas e políticas de uma vitória histórica confederada.

-- Bring the Jubilee de Ward Moore: uma ficção alo-histórica, pequena obra-prima de FC, onde a instituição da escravatura deu lugar à de «indentação» e os homens livres se podem vender a si próprios com perda de alguns direitos essenciais e retenção de outros.

Ambos dão que pensar...

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[1] Quando na Declaração de Independência se afirma "We hold these Truths to be self-evident, that all Men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the Pursuit of Happiness", não significa isso que quem a escreveu fosse ignorante a ponto de julgar que um escravo não era um homem. Pelo contrário: o que a ausência de qualificativos (note que não é "All free men" ou "All men but..." que lá está) significa é que existe a consciência de nem tudo ser instantaneamente possível, mas também de um futuro a que se deve apontar. A própria constituição posterior, um compromisso entre federalistas e whigs, evita o termo «escravo», preferindo-lhe eufemismos como "person held to service or labour" ou "migration or importation of such persons as any of the states now existing shall think proper to admit" ao estabelecer uma data futura (1808) a partir da qual o Congresso poderá passar leis proibindo essa importação.

[2] A constituição confederada é uma cópia modificada da constituição dos Estados Unidos. As 10 primeiras emendas que constituem o Bill of Rights são incluídas no seu corpo, mas uma das modificações introduzidas na secção dos limites ao poder legislativo (Art. I, Sec. 9), ao lado das mais importantes emendas do dito Bill of Rights, é esta: "No [...] law denying or impairing the right of property in negro slaves shall be passed". Em matéria de perspectivas futuras não se pode dizer que fosse uma visão de grande alcance...

Pedro Botelho disse...

Escrevi "whigs" mas teria talvez sido preferível "anti-federalistas". Usei a palavra no sentido político vulgar e não no da história partidária americana.