27.9.07

Caricaturas

Engraçada esta complacência com que a comunicação social trata Ron Paul, como se ele fosse um homenzinho esquisito, com algo de lunático, a quem um dia ocorreu a loucura de entrar na corrida para a Presidência dos Estados Unidos da América. Quem ler o que dele se escreve, quase pensa estar perante uma espécie de louco fugido do asilo, vestido de pijama e de robe, a rondar as ruas de Washington com uma tocha na mão.

Viesse ele das bandas canhotas da política, despindo-se ao lado de um urso polar para denunciar o fim da humanidade à conta do aquecimento global e logo o teríamos desenhado como um homem de vanguarda, um intelectual com sólidas referências que se coloca acima da política comum, um homem diferente com uma política diferente. Mas não. Como o senhor não partilha a fornada de Clintons e Gores desta vida, nem sequer merece a pena ouvi-lo ou lê-lo. Basta caricaturá-lo. Ainda que o que ele diga possa fazer sentido. Mas quer dizer, caramba, andar aqui a falar de liberdades individuais sem se dizer, de colete de ciclista na mão, "eu sou o candidato dos cidadãos e venho ser a voz dos cidadãos porque é preciso dar vozes aos cidadãos" é que nem pensar, não é coisa que se fala, que não cai bem.

E assim se faz a cobertura política Mundo fora. A mesma cobertura que continua a insistir que os políticos são todos iguais e as receitas sempre as mesmas. Pois.

4 comentários:

MP disse...

Ah meu caro Adolfo, e não o é à luz da corriqueira experiência quotidiana, em que cada "ovelha" pretende ser aceite de acordo com os ditames do politicamente correcto, e do aceite pela sociedade que há?

Estes são valores que foguem em tudo aqueles que são praticados pelo mundo fora, por tal, ele é um indivíduo 'estranho' - a revolução em acção é a da Utopia - esperemos que algo passe para a realidade

Miguel Madeira disse...

"Viesse ele das bandas canhotas da política..."

O Mike Gravel (que penso pode ser considerado o simétrico de Paul)será muito melhor tratado pela CS do que o Ron Paul?

Miguel Madeira disse...

Por exemplo, o NYT tem 931 referencias a "Ron Paul", contra 229 para Mike Gravel ou 672 para Dennis Kucinich (estou a por "ron paul" dentro de aspas, porque "Ron" e "Paul" são nomes vulgares).

É verdade que isto não quer dizer grande coisa, porque não se sabe se as noticias são positivas, negativas ou neutras, mas já quer dizer alguma coisa.

AMN disse...

Miguel,
Eu não questiono que outros candidatos não sejam discriminados, no seu tratamento noticioso, face aos grandes candidatos. Algo que considero bastante normal.

A questão que procurei levantar é mais a forma como as ideias de Ron Paul são ridicularizadas e motivo de galhofa, até pelos outros candidatos republicanos, como se viu num recente debate. E nesse campo, concedendo que não conheço o tratamento dado a Gravel, penso que as coisas atingiram limites inimagináveis, não pela minimização do impacte do candidato mas pela superioridade intelectual demonstrada face a ele e que, segundo a minha opinião - sempre pronta a ser rebatida - é menos frequente do lado da esquerda.

Um abraço,
a.