9.1.08

Diz que disse

O Bruno Gonçalves linkou, e o Paulo Tunhas reforçou a utilidade do link, para um texto de James Kirchick publicado na The New Republic e dedicado, segundo o seu autor, a mostrar o escondido passado de Ron Paul. Lê-se o artigo e, como sempre que se trata de denegrir Ron Paul, não se encontra uma única linha assinada ou subscrita por ele.

Em vez de termos acesso a decisões, discursos ou votações de Ron Paul (e que são aos milhares, prontas a ser escrutinadas de alto a baixo) temos acesso a newsletters que Paul não escreveu, não subscreveu e por várias vezes repudiou. É sempre assim com Paul. Nunca lhe atacam as palavras ou os gestos próprios. São sempre as do apoiante, do financiador, do tipo que lhe vende a fruta.

Inteligentemente, e mostrando que conhecia o teor do artigo para o qual linkava e que mais não era do que um punhado de coisas que não podia ser atribuída a Ron Paul, o Bruno Gonçalves intitulou o seu post de “O Passado do Movimento Ron Paul”, assim afastando a espada sobre a cabeça do candidato, transferindo-a no entanto para a nossa. Pois que nós somos, modestamente pois então, um movimento de apoio a Ron Paul (presumo que já tenha passado a estranheza a todos quantos na blogosfera se riram deste blogue e hoje se dedicam diariamente a clamar ufanamente o seu apoio a um ou outro candidato).

Mas ao afastar a espada de Ron Paul, o post do Bruno deixa de ter qualquer utilidade.

Por um lado porque, pegando no artigo linkado, o Bruno se escusou ao trabalho de ir verificar em toda e cada uma das declarações de Ron Paul, desde que nasceu até ao presente momento, algo que pudesse, de alguma forma, dar conforto ao que vem escrito por Kirchick. Isso sim seria de grande utilidade. Seria perda de tempo, claro. Mas as conclusões seriam de grande utilidade, uma vez que os textos de Ron Paul, bem como os seus discursos ou votações, desmentem linha por linha as acusações do texto linkado.

Por outro lado, porque o Bruno não considerou importante verificar se o artigo em causa era recente, se já tinha sido desmentido, se a história já tinha sido apurada, qual o calibre do seu autor ou da revista em causa. E neste afã passou ao lado das explicações de Paul, da demissão do autor da newsletter e do requentado da história.

Ainda por outro lado porque, olhando para os apoiantes dos restantes candidatos, Rudy incluído, o que não falta por aí é gente doida a dizer coisas que não fazem sentido nenhum, demonstrando à saciedade que, numa eleição como esta, é o homem que conta e não o lunático que se dedica a oferecer pins e a escrever merda atrás de merda durante a noite. Aliás, engraçado será o futuro de todos nós, que diariamente escrevemos na blogosfera, quando em 2043 formos confrontados com o que escrevemos em 2003...

Finalmente, porque o Bruno perde cada vez mais tempo com um candidato alegadamente irrelevante em vez de explicar, ao certo e em pormenor, por que razão deve Rudy vencer sobre, por exemplo, McCain. Isso sim será um post interessante e útil. Pois que é de ideias próprias de candidatos que estamos a falar, seria bom que disse se falasse de facto.

Dito isto não posso concordar, nem sequer ao de leve, nem sequer de raspão, com aquilo que o Carlos Novais aqui escreve sobre a Atlântico. Não me parece que a Atlântico, em qualquer um dos seus suportes seja a casa de algum do pensamento proto-neo-conservador trotsky-cons. Nem penso sequer que essa caracterização assente no Bruno Gonçalves. Basta aliás ler os seus posts para perceber que ela pouco ou nada tem que ver com o Bruno, que muito gosto de ler, mesmo quando discordo. Tratou-se, aqui, de um post mais rápido que a sombra. A todos já nos aconteceu o mesmo. Não me parece que seja crime.

Além disso, tanto quanto percebo, e alguma coisa percebo que aquilo é também a minha casa, a Atlântico é um espaço que muito honra a liberdade. Onde todos escrevem as suas ideias, as debatem, as confrontam e as sindicam sem qualquer restrição que não a manter-se a revista como espaço de debate de ideias. Em Portugal, sinceramente, não conheço outro órgão editorial onde visões ideológicas tão diferentes convivam, sem competir espaço nem direcções, tachos ou condecorações. E se isso não vai bem com a visão de Ron Paul para o Mundo, não sei o que é que vai.

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